1
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS PROFESSORES E ESTUDANTES COM
DISTORÇÃO IDADE-SÉRIE SOBRE O ENSINAR E APRENDER: UMA ANÁLISE
POR MEIO DO DESENHO
THE SOCIAL REPRESENTATIONS OF TEACHERS AND STUDENTS WITH AGE-
GRADE DISTORTION ABOUT TEACHING AND LEARNING: AN ANALYSIS
THROUGH DRAWING
Edna Chamon
1
Universidade Estácio de Sá (UNESA) - Brasil
Suellen Patareli Miragaia
2
Prefeitura Municipal de Taubaté - Brasil
Stéfano Barra Gazzola
3
Grupo Educacional Unis - Brasil
Patrícia Ortiz
4
Universidade Estácio de Sá (UNESA) - Brasil
RESUMO
A distorção idade-série é um fenômeno escolar presente no sistema educacional brasileiro. Este
estudo investigou as representações sociais de professores e alunos sobre a distorção idade-
série. O referencial teórico-metodológico dessa pesquisa fundamenta-se na Teoria das
Representações Sociais. A amostra é composta por 14 professores e 341 alunos de 14 escolas
de Ensino Fundamental. Durante o estudo, realizamos a descrição e a análise das representações
sociais dos professores e alunos sobre distorção idade-série por meio do registro iconográfico.
Os dados obtidos por meio dos desenhos foram categorizados e analisados por temáticas. Os
resultados obtidos indicaram que as representações sociais estão organizadas em torno da
distorção idade-série como consequência de questões internas de responsabilidade do próprio
estudante e de questões externas ligadas à família do estudante. Essas considerações apontam
práticas ancoradas e objetivadas ao longo da trajetória escolar dos estudantes que acabam
gerando a exclusão escolar.
Palavras-chave: Distorção idade-série. Representações Sociais. Ensino Fundamental.
1
Doutora em Educação, ednachamon@gmail.com, Universidade Estácio de Sá
2
Doutora em Educação, patareli33@gmail.com, Prefeitura Municipal de Taubaté
3
Doutor em Educação, Gazzola@unis.edu.br, Grupo Educacional Unis
4
Doutora em Ciências Ambientais, patyortizmonteiro@terra.com.br, Universidade Estácio de Sá
2
SUMMARY
Age-grade distortion is a school phenomenon present in the Brazilian educational system. This
study investigated the social representations of teachers and students regarding age-grade
distortion. The theoretical-methodological framework of this research is based on the Theory
of Social Representations. The sample consists of 14 teachers and 341 students from 14
elementary schools. During the study, we described and analyzed the social representations of
teachers and students regarding age-grade distortion through iconographic records. The data
obtained through the drawings were categorized and analyzed by themes. The results obtained
indicated that social representations are organized around the age-grade distortion as a
consequence of internal issues of the student's own responsibility and external issues linked to
the student's family. These considerations point to anchored and objective practices throughout
the students' school career that end up generating school exclusion.
Keywords: Age-grade distortion. Social Representations. Elementary School.
1. INTRODUÇÃO
A educação pública é o reflexo da sociedade brasileira. Apesar dos avanços, como o
processo de universalização do acesso à Educação Básica que se consolidou na década de 1990,
o Brasil ainda deixa a desejar na qualidade do seu sistema público de ensino, uma vez que para
que o direito à educação se concretize é imprescindível garantir além da permanência, a
qualidade do ensino ofertado.
A sociedade brasileira historicamente possui um legado de preconceitos e
desigualdades. A escola é reprodutora dessas desigualdades na medida em que a educação
escolar opera de modo a perpetuar as relações de poder existentes na sociedade. Desta forma,
ela impõe a todos os meninos e meninas os modos de pensar e a cultura da classe dominante
(violência simbólica), reproduzindo as relações de poder existentes na sociedade
(BORDIEU,1998).
Precisamos refletir como esses preconceitos e desigualdades estão presentes em nossas
práticas pedagógicas na escola, na medida em que muitos estudantes reprovam de ano escolar
e/ou abandonam a escola, não porque não aprendem, mas porque a maneira como estão sendo
ensinados é incompatível com a maneira como aprendem. Esses alunos da escola pública,
alguns oriundos de camadas populares, após inúmeras vivências de fracassos escolares, acabam
ficando em distorção idade-série.
3
No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), legislação vigente
que institui a oferta de ensino no país (BRASIL, 2016) promulga que o aluno deve matricular-
se no primeiro ano do Ensino Fundamental aos seis anos de idade, perdurando até o nono ano,
concluindo os estudos aos 14 anos nesse nível de ensino. Diante disto, o aluno tem um período
de nove anos para percorrer o Ensino Fundamental que organiza o ensino por ano. O aluno que
por diversas razões abandona a escola e retorna depois de um período ou repete por mais de
uma vez, passa a ser considerado como um aluno com distorção idade-série, ou seja, a distorção
idade-série é a proporção de alunos com mais de dois anos de atraso escolar.
Diante da situação enfrentada por alunos matriculados nas escolas brasileiras é que
buscou-se investigar como esses alunos com distorção idade-série se relacionam com o
processo de ensinar e aprender e para eles, onde essas relações acontecem, de modo que
possamos buscar compreender porque esse ciclo de repetência e abandono se perpetuam ainda
nos dias atuais.
Procuramos compreender esse processo (ensinar e aprender) por meio da Teoria das
representações sociais. A representação é “um processo fundamental da vida humana; ele
subjaz o desenvolvimento da mente, do Eu, da sociedade e da cultura” (JOVCHELOVITCH,
p. 33, 2007). Quando representamos algo, estamos por meio de símbolos tornando presente algo
que está ausente.
O estudo foi realizado em um município localizado na região Metropolitana do Vale do
Paraíba Paulista, com aproximadamente 311. 854 habitantes. O Sistema municipal público de
ensino é composto por 133 escolas que atendem desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.
A modalidade de ensino pesquisada no presente estudo foi o Ensino Fundamental, composto
por 56 escolas, das quais em 2017 haviam 30.924 alunos matriculados. Destes alunos, 3.961
eram alunos com distorção idade-série, ou seja, 12,8% dos alunos do sistema municipal.
As instituições escolhidas para o lócus do estudo foram 14 escolas municipais de Ensino
Fundamental anos finais nas quais funcionam um programa de recuperação paralela no
contraturno escolar com aulas de língua portuguesa e matemática para 821 alunos com distorção
idade-série.
O grupo de participantes da pesquisa foi constituído pelos 14 professores atuantes no
programa de recuperação paralela para alunos com distorção idade-série, sendo sete professores
de língua portuguesa e sete professores de matemática. Em relação ao critério de escolha dos
alunos (821 matriculados no programa), por meio da realização de uma amostra simples não-
4
estratificada que foi definida por critérios probabilísticos, por meio de cálculo amostral, definiu-
se a amostra de 341 alunos que participaram do estudo.
Foi solicitado aos 14 professores e aos 341 alunos com distorção idade-série que
aceitaram participar do estudo, que desenhassem livremente em uma folha de sulfite sobre duas
pessoas: “uma que aprende” e “uma que ensina”. Cada participante escolheu livremente os
materiais para realizar o desenho, como lápis, caneta, caneta hidrocor, entre outros. Os
professores confeccionaram os desenhos em Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC)
e os alunos com distorção idade-série realizaram o desenho em sala de aula. Foram realizados
14 desenhos pelos professores e 341 pelos alunos com distorção idade-série.
O desenho é um recurso privilegiado para expressar sentimentos, emoções e
representações. Gomes (1996, p.13), relata que “[...] é uma das formas de expressão humana
que melhor permite a representação das coisas concretas e abstratas que compõem o mundo
natural ou artificial em que vivemos”. O uso do desenho como instrumento de coleta de dados
mostrou-se propício para ser aplicado com os alunos com distorção idade-série e com os
professores, uma vez que trouxe preciosas informações sobre os significados que são
compartilhados socialmente sobre a escola. Os desenhos constituem um recurso valioso para a
análise das representações sociais dos professores e alunos sobre o ensinar e o aprender, porém
na medida em que são compostos por simbolismos não são fáceis de se interpretar, pois nos
rementem a um amplo imaginário social (NOVAES, 2010).
A partir desta etapa, aplicou-se o método de análise de conteúdo, sistematizada por
Bardin (2016), expressa a partir de inferências e análises dos resultados. Bardin, afirma que
“[...] a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análises das comunicações (BARDIN,
2016, p. 70), é uma técnica de investigação destinada a formular, a partir de certos dados,
inferências reprodutíveis e válidas que se podem aplicar a um contexto.
Bardin (2016) aponta que existe três fases para que a análise de conteúdo seja
realizada, sendo elas: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados (a
inferência e a interpretação). A pré-análise é a fase de organização, na qual escolhe-se os
documentos que serão submetidos a análise, a formulação de indicadores que facilitarão a
análise final e a definição dos objetivos, no presente estudo escolheu- se os desenhos como
documentos para serem analisados.
A segunda fase, proposta por Bardin, refere-se à exploração dos materiais, consiste na
codificação, tabulação e categorização do instrumento utilizado neste estudo (desenho).
5
A terceira fase para a realização da análise de conteúdo proposta por Bardin, refere-se
ao tratamento dos resultados, por meio dele caberá ao pesquisador codificar os resultados com
o intuito de chegar a uma representação do seu conteúdo. Os 355 desenhos foram organizados
e analisados em categorias temáticas, sendo elas: Sala de aula, Família e Comunidade. Todas
categorias foram submetidas à análise, individualmente, e os achados foram analisados com o
apoio da literatura científica da área pedagógica e da teoria das representações sociais.
2. OBJETIVO
Identificar as representações sociais dos alunos e dos professores sobre a distorção idade-série.
3. DESENVOLVIMENTO
Os desenhos realizados pelos alunos com distorção idade-série e pelos professores de
Língua portuguesa e Matemática foram organizados por categorias temáticas conforme
demonstrado na Tabela 1.
Tabela 1. Categorias dos desenhos dos professores e alunos com defasagem idade-série.
Categoria
Quantidade de desenhos realizados
Sala de aula
326
Família
5
Comunidade Educativa
24
Total
355
Fonte: Elaborado pela autora.
A descrição interpretativa das categorias é apresentada a seguir. A categoria sala de
aula consiste nos desenhos realizados pelos alunos com distorção idade-série e pelos
professores, os quais representam-se as relações de aprendizagem que ocorrem dentro da sala
de aula. Foram realizados 326 desenhos sobre essa temática, nas quais 90 % dos desenhos foram
realizados de forma que o professor é aquele que ensina, onde ele se posiciona na frente da
lousa e o aluno está colocado na situação de quem aprende, sentado em uma carteira com o
caderno em cima da mesa. As Figuras 1, 2 e 3 representam está temática.
6
Figura 1. Sala de aula do Ensino Regular.
Fonte: Elaborado por um aluno com distorção idade-série.
A Figura 1 apresenta uma sala de aula com carteiras enfileiras, professor posicionado
na lousa com atividades de arme e efetue. A Figura 2 apresenta um desenho realizado por um
aluno com distorção idade-série sobre uma aula realizada no ensino regular. Percebe-se que o
desenho representa uma professora na frente da lousa e um aluno em uma carteira. É nítida a
diferença de tamanho entre os dois. Não cores no desenho. O professor está, não em
interação, mas de costas para o aluno.
7
Figura 2. Sala de aula do Ensino Regular.
Fonte: Elaborado por um aluno com distorção idade-série.
A escola contemporânea, do modo como está organizada, não atende às expectativas
dos alunos com distorção idade-série, pois muitas vezes ignora as lacunas de aprendizagem
desses alunos, e aquilo que é dito na sala de aula não tem sentido para eles. A Figura 3 representa
este sentimento em sala de aula.
8
Figura 3. Aluno com distorção idade-série na sala de aula.
Fonte: Elaborado por um aluno com defasagem idade-série.
Percebemos que durante todo o processo educativo, que as representações sobre ensino
e aprendizagem são construídas em um ambiente cercado tanto por relações cognitivas, como
por relações afetivas, na medida em que a aprendizagem pressupõe uma relação entre duas ou
mais pessoas.
A categoria Família consiste nos 5 desenhos realizados pelos professores e alunos com
distorção idade-série que representam situações nas quais as relações de ensinar e aprender
ocorrem no ambiente familiar. As Figuras 4 e 5 representam está temática.
9
Figura 4. Desenho sobre alguém que ensina e alguém que aprende
Fonte: Elaborado por um aluno com distorção idade-série.
A Figura 4, apresenta um desenho elaborado por um aluno com distorção idade-série,
no qual o mesmo representa uma pessoa que aprende e uma pessoa que ensina por uma figura
que ele denomina de mãe e outra de filha. Percebe-se no que desenho que as duas estão
separadas por uma linha, a mãe é grande e a filha pequena, aspecto que muito se diferencia da
Figura 5 que foi desenhada por uma professora de Língua portuguesa e representa uma família
unida na qual a o bebê está no colo da mãe, os avós estão presentes e todos estão posicionados
um ao lado do outro.
A maioria dos desenhos realizados pelo aluno com distorção idade-série mostram as
figuras humanas distantes uma das outras, algo que não acontece nos desenhos realizados pelos
professores.
10
Figura 5. Desenho sobre alguém que ensina e alguém que aprende.
Legenda: Todos aprendem e ensinam. É ciclo sem fim. Fonte: Elaborado por uma professora de
matemática.
Foram produzidos pelos alunos com distorção idade-série quatro desenhos sobre a
relação de aprender e ensinar que apresentaram uma figura materna e uma criança. Essas
escolhas em relação a uma das figuras parentais, no caso dos desenhos realizados a escolha feita
foi pela figura da mãe, apareceram desenhos no qual a mãe está punindo a criança.
A categoria comunidade educativa foi organizada por 24 desenhos realizados somente
por alunos com distorção idade-série (os 14 desenhos realizados pelos professores
representaram a aprendizagem no contexto escolar), os quais representavam uma pessoa que
aprende e uma que ensina por meio de objetos e ambientes diversos do familiar e escolar. As
Figuras 6 e 7 representam essa categoria.
11
Figura 6. Desenho sobre alguém que ensina e alguém que aprende.
Fonte: Elaborado por um aluno com distorção idade-série.
A Figura 6 representa dois amigos empinando pipa em um dia ensolarado. Percebe-se
no desenho que os amigos estão sorrindo, estão posicionados lado a lado e enquanto o maior
empina a pipa o menor observa.
As representações sociais são formas de conhecimento compartilhadas socialmente,
tornando a realidade acessível e comum a todos. Qualquer representação é composta de
elementos constitutivos, como crenças, atitudes e valores que permeiam um núcleo central
(ABRIC, 2000). Por meio das representações tomamos conhecimento pelas quais formas os
alunos com distorção idade-série estabelecem relações com o ensinar e aprender. A Figura 6
traz a representação de que é possível na percepção do aluno que fez o desenho, aprender com
o amigo, para ele a aprendizagem pode ocorrer fora da escola e pode ser divertida. Já a Figura
7 apresenta uma forma diferente de ser representar uma pessoa que aprende e uma pessoa que
12
ensina. Aparece no desenho um celular representado como algo que ensina e um homem que
aprende. Apesar dos recursos tecnológicos disponíveis na sociedade contemporânea, apenas um
aluno representou por meio do desenho um recurso tecnológico.
Figura 7. Desenho sobre alguém que ensina e alguém que aprende.
Fonte: Elaborado por um aluno com distorção idade-série.
Após a definição das categorias, os desenhos foram organizados em indicadores que nos
possibilitaram observar quais representações são vivenciadas na escola, na sala de aula e quais
são os vínculos os indivíduos estabelecem com o ensinar e o aprender. A Tabela 2 apresenta
essas categorias e suas ocorrências.
13
Tabela 2. Indicadores dos desenhos elaborados por alunos e professores.
número
Indicador
Total
1
Ambientação escolar ausente
21
2
Ênfase no ambiente físico
13
3
Ausência dos objetos de aprendizagem
12
4
Ausência de vínculos do objeto de aprendizagem
12
5
Representação que não seja professor/ aluno
10
6
Ausência da interação entre professor/aluno
15
7
Professor em lugar mais baixo que o aluno
11
8
Aluno em lugar mais baixo que o professor
125
9
Maiores detalhes em um personagem
2
10
Professor em palito
18
11
Sinais de agressividade em um professor
2
12
Figuras do aluno em palitos
20
13
Sinais de agressividade no aluno
1
14
Omissão das partes essenciais do aluno
9
15
Omissão das partes essenciais do professor
1
16
Tristeza ou ausência de boca no aluno
46
17
Desenho colorido
14
18
Desenho preto e branco
230
19
Inclusão de colegas de classe
11
20
Professor do sexo feminino
66
21
Professor do sexo masculino
35
22
Sexo do professor indefinido
12
23
Professor em pé e aluno sentado
36
24
Todos sentados
1
25
Aluno em pé e professor sentado
1
26
Todos em pé
19
27
Professor usando a lousa
123
28
Armas ou objetos nocivos no aluno
1
29
Professor grande e aluno pequeno
20
30
Alunos enfileirados
71
Fonte: Elaborado pela autora.
Ao analisarmos as ocorrências nos desenhos realizados podemos perceber que eles estão
permeados de representações. Nos indicadores 7 e 8 apresentados na Tabela 2 aparecem as
representações dos alunos com distorção idade-série sobre a posição dos professores perante os
alunos, ou seja, na maioria dos desenhos o professor está posicionado em um lugar superior ao
aluno. No indicador 27 percebemos que dos 355 desenhos realizados, 123 desenharam o
professor na lousa, seguido pelo indicador 30, nas quais retratam os alunos enfileirados na sala,
indicando que para os alunos o professor ensina na lousa e os alunos ficam enfileirados,
aparecendo uma representação social sobre a sala de aula.
14
4. CONCLUSÃO
Jovchelovitch afirma que a teoria das representações sociais “[...] buscam explicar como
os saberes sociais são produzidos e transformados em processos de comunicação e interação
social (JOVCHELOVITCH, 2007, p. 87). Assim, quando se compreende como os sujeitos
pensam e interagem sobre um objeto, torna-se possível entender o porquê de certas práticas e o
modo como se perpetuam no cotidiano escolar.
Este estudo procurou conhecer as representações sociais dos professores e dos alunos
com distorção idade-série sobre o ensinar e o aprender, procurando identificar as representações
de alunos que vivenciam ou vivenciaram situação de fracasso escolar, uma vez que todos
reprovaram de ano duas vezes ou mais. As representações dos professores mostraram que o
processo de ensinar e aprender acontece somente na escola, na presença do professor e por meio
de vínculo afetivo.
Os desenhos dos alunos com distorção idade-série mostraram que as aprendizagens
ocorridas no ambiente escolar são permeadas por representações tradicionais da escola, nas
quais o professor se apresenta em um piso superior ao do aluno, a lousa, o caderno e as carteiras
enfileiras aparecem na maioria dos desenhos como situações vivenciadas na escola, sendo as
lousas repletas de arme e efetue.
Entendemos que, enquanto as escolas permanecerem com suas práticas tradicionais,
pautadas em um ensino compartimentado que separa os alunos por faixa etária, com divisão
por horas aula de cinquenta minutos, por meio de um ensino fragmentado por disciplinas;
enquanto as escolas mantiverem o professor como centro do processo educativo, por meio de
um ensino padronizado e o aluno passivo, a aprendizagem nunca será para todos e para todas.
5. REFERÊNCIAS
ABRIC, J.C. A abordagem estrutural das Representações Sociais. In: Moreira, A. S. P. &
Oliveira, D.C. (org.). Estudos Interdisciplinares de representação social. 2.ed. Goiânia: AB,
2000.p. 27-37.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Tradução: Luís Antero Relo; Augusto Pinheiro. São Paulo:
Edições 70, 2016.
15
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação nacional: Lei 9.394, de 20 de dezembro de
1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 13.ed. Brasília: Câmara dos
Deputados, Edições Câmara, 2016.
GOMES, L. V. N. Desenhismo. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 1996.
JOVCHELOVITCH, Sandra. Os contextos dos saberes: representações, comunidade e cultura.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em psicologia social. Tradução de
Pedrinho A. Guareschi. 7.ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
NOVAES, A. O. Por uma análise psicossocial do grupo de direito. 2010. Tese. (Doutorado em
Educação: Psicologia da Educação). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo,
2010.